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Conheça o projeto Marambá

  • Foto do escritor: olhar cósmico
    olhar cósmico
  • 17 de ago. de 2023
  • 6 min de leitura

João Alexandre, 36 anos, natural de São Paulo, formado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de São Paulo e Mestrado Stricto Sensu em Neurociência e Cognição pela Universidade Federal do ABC, mais conhecido pelo nome do seu projeto Marambá, que explora as vertentes do DarkPsy e do Hi Tech, iniciou o seu contato com a música desde a infância por influências familiares, e, após anos de estudo, produção e apresentações, ele sentiu uma mudança gradual entre o que era hobby e o que se tornou profissional para si em relação a música.


Sua família sempre teve um gosto musical eclético, fazendo com que, além do conhecimento musical extenso, a música sempre fosse presente em sua vida. Aos seus 12/13 anos, iniciou aulas de violão erudito e foi através dessas aulas que ele aprendeu sobre harmonia e composição dentro da música erudita. “Nessa época, por gostar de música eletrônica, eu brincava com os programas de produção (Cubase e Fruity Loops) compondo melodias que às vezes nem conseguia tocar no violão, mas de maneira bem descomprometida, mesmo porque nem computador eu tinha.”.


O seu contato com a música eletrônica iniciou em meados da década de 90, através das vertentes techno, new age e trance. Foi somente nos anos 2000 que teve o contato com a vertente Goa e Psytrance, sendo sua primeira festa em 2003. Porém, muito antes de iniciar a sua jornada na música, João teve várias profissões como professor de inglês quando tinha 16 anos, garçom, barman, caixa, professor, etc. Além de, após alguns anos, ter a oportunidade de trabalhar como neurocientista em pesquisas envolvendo psicodélicos em voluntários humanos. E então, por volta de 2003 e 2004, ele começou a arrumar maneiras de trabalhar nas festas para poder estar presente nelas.


“Meu primeiro trabalho no trance foi com Redução de Danos, sendo a primeira vez em 2007 (até onde eu sei, foi a primeira ação de RD em festas de música eletrônica em SP), mas já trabalhei como performer e filmagem de performances, alimentação, plantio de árvores e distribuição de sementes, palestras, portaria, caixa, bar, fotografia, estruturas, estacionamento, logística e organização”.


Com isso, sua vontade de produzir e fazer com que a música se tornasse algo profissional e além de tudo, uma oportunidade de explorar o mundo espalhando a sua arte por onde fosse, se tornou realidade. “Acho que não houve um momento específico, foi algo bastante gradual. Ao longo dos anos de estudo, produção e apresentações, houve uma mudança gradual entre o que era hobby e o que se tornou profissional. Mas foi algo que aconteceu naturalmente, sem a pretensão de um dia viver disso, muito menos conhecer o mundo apresentando minha arte.”


Suas referências e influências continuam as mesmas desde o início do projeto até os dias atuais, variando desde música clássica até étnica chillout e ambient. Dentro da música eletrônica psicodélica, projetos como, Electrypnose, Hallucinogen, Infected Mushroom (sendo trabalhos antigos, como por exemplo o álbum Classical Mushroom), e os outros projetos do Simon Posford como Shpongle, influenciaram de alguma forma seu projeto. Já em sons mais acelerados, projetos como Psykovsky, Necropsycho e o Goa Gil, foram e são projetos que tiveram uma grande influência para Marambá. Além de projetos como, Kashyyyk, Gotalien, Kaikkialla e Angry Luna que são artistas, onde há uma admiração tanto pela harmonia quanto pela energia que eles transmitem. “É o tipo de música que me toca, me faz pensar e sentir diversas emoções que são difíceis de se expressar em palavras.”.


Em termos de conceito, suas influências vieram de experiências pessoais em diversos contextos. “Com a apresentação do Marambá, por exemplo, sempre procuro contar a história de uma experiência psicodélica, desde a entrada no trabalho com o foco em questões pessoais, o momento de limpeza (também chamado de purga ou peia) e a reentrada ao estado comum de consciência, que geralmente é repleto de insights motivadores e sentimentos de encantamento, plenitude e serenidade.” Uma inspiração para essa representação citada, veio através de um livro chamado A Experiência Psicodélica, que é uma adaptação do Livro Tibetano dos Mortos (Bardo Thodol).


Uma das maiores dificuldades para o projeto Marambá foi a divulgação do conceito e essência do mesmo, tentando fazer as pessoas entenderem que não é somente uma vertente com sons mais pesados, Darkpsy ou uma vertente com barulhos ritmados (Hi tech). ”Quando comecei, as pessoas tentavam me enquadrar em Dark, mas os produtores de Dark diziam que tinham momentos muito melódicos para ser considerado Dark, enquanto que os produtores de Hi Tech (vertente que estava em desenvolvimento na época) falavam que era atmosférico demais pra ser Hi tech. Acredito que esse tenha sido um dos grandes desafios”.


Seu objetivo sempre foi contar histórias e guiar o público por uma jornada que passa por esse gradiente entre o “escuro” e a "luz". Além disso, ele cita que quando iniciou o projeto, essas vertentes chamadas de "noturnas" ou de "highbpm" não se ramificavam tanto entre os artistas como hoje, fazendo com que ele também fosse um dos primeiros projetos a ser chamado por eventos que exploravam sons mais comerciais em seus line-ups. “Basicamente, o mesmo artista que produzia dark, também produzia forest, psycore e hitech. Alguns deles, inclusive eu, mantemos essa característica até hoje, podendo ser encaixados em qualquer momento no lineup de um festival de dark/forest/hi tech. Por outro lado, foi essa versatilidade que permitiu o projeto ser um dos primeiros (após o Magma Ohm) a serem chamados para tocar em eventos que abrangiam estilos de som mais comerciais”.


Durante sua trajetória houveram diversos acontecimentos que deixaram uma marca em seu projeto. Mas o acontecimento mais marcante foi ele poder conhecer diversos indígenas Pataxó nos festivais e ter tido a honra de fazer música com eles. Ele cita que no festival Soulvision, realizado em 2015, foi a primeira vez que ele se apresentou com esses indígenas. “Foi a primeira vez que nos apresentamos juntos e de lá pra cá nos apresentamos no Universo Paralello diversas vezes.”.

Para Marambá tocar é como conduzir uma experiência ao público, algo que não tem como ser planejado ou previsto, pois cada ambiente é único e cada momento no line-up é diferente. “O que me motiva e talvez faça com que meu som tenha uma identidade forte, é que procuro usar tudo que acontece comigo e ao meu redor para influenciar no que estou fazendo. Eles são meu combustível, por assim dizer.”.


Suas músicas possuem significados fortes e são parte de vivências e experiências de sua vida, como encerramento de ciclos, após conhecer um novo lugar, se apaixonar, terminar um relacionamento, havendo um processo de criação extenso, mas sempre pensando em cada detalhe para que se torne uma experiência única. “Portanto, ao meu ver, tocar seria como expor seus pensamentos e reflexões mais profundas mas numa linguagem que só você entende totalmente. Mas se a música for bem expressiva, as pessoas conseguem identificar o sentimento e o interpretam de acordo com a própria vivência pessoal.”.

O álbum Alvorada, um dos álbuns mais famosos do seu projeto, tem como objetivo de passar a ideia de como a apresentação pode ser desenrolada, indo do escuro para a luz de forma gradual, por esse motivo esse é o nome do álbum. “Todas as músicas têm um papel específico em cada momento que estão, por isso devem ser ouvidas na sequência.”.


Já o álbum “Amor Fati” está relacionado com a aceitação do próprio destino, também passando por essa jornada de sair da escuridão rumo à luz. “Se repararem bem, a primeira e última música têm os nomes espelhados e uma temática parecida, mas com humores totalmente diferentes. Pois uma foi a "entrada" e a outra foi a "saída". No meio delas vemos cada capítulo dessa história como se fosse um livro.”. Músicas como “Ode to Nature”, “Forest Waltz” e o álbum “Amor Fati”, foram produções que demandaram um envolvimento sentimental maior, fazendo com que houvesse mais apego pelo seu projeto.


Uma curiosidade sobre o seu projeto é que todas suas músicas, inclusive as mais complexas, são composições próprias. Em alguns casos, quando usada música erudita para fazer um remix, é feita uma releitura e é feita uma nova composição de todos os instrumentos (violinos, cellos, metais, percussão, etc), sempre procurando trazer a sua visão e interpretação em cima da música. “A Sweet Dead River (feita depois do desastre da Samarco em 2016, foi uma releitura da Marcha Fúnebre de Beethoven), a Apo 612 (releitura de O Fortuna), a Inverno (releitura da música homônima do Vivaldi), entre outras.”.


João cita isso como uma curiosidade, pelo fato de, hoje em dia existir muita cópia de coisas já feitas, uso excessivo de samples de músicas famosas, artistas se copiando ou “desperdiçando” o tempo produzindo sons mais “fáceis” para conseguir o sucesso de prontidão. “Infelizmente, o mais comum hoje é a arte feita pela fama, não pela vontade de expressar algo genuíno, tanto dentro como fora do nosso movimento. Consequentemente, as pessoas automaticamente enquadram algo diferente como "algo que foi copiado".”.


O seu projeto tem como significado a música de Tutu Marambá, que foi uma das primeiras músicas que ele aprendeu a tocar quando fazia aulas de violão erudito. Tutu Marambá é uma criatura do folclore brasileiro que vai atrás das crianças que não estão dormindo. Na amazônia, Marambá é uma criatura da floresta que traz a cura através das plantas.


Um dos seus maiores aprendizados foi o de não apressar a arte, e que a emoção é sentida pelas pessoas quando a música é feita com emoção, por isso entende que é preciso de um estopim para cada uma das músicas produzidas.

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Algumas das publicações em periódicos científicos realizadas por João:


Apresentação realizada com indígenas Pataxó no festival Universo Paralello.


 
 
 

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