Lives da cena eletrônica viram 'refúgio' em meio à quarentena
- olhar cósmico
- 30 de nov. de 2020
- 3 min de leitura
Artistas e produtores da área acreditam que projetos não presenciais podem continuar sendo mantidos no futuro.
“A cena eletrônica enfrenta dificuldades, apesar dos nossos esforços. Passamos por um período conturbado, sem nenhuma perspectiva de melhora. Não sabemos quando os eventos voltarão. A grande maioria dos organizadores de lives não está pagando os DJs, já que a live não é lucrativa, e as doações quase não existem. Alguns projetos mais conhecidos recebem dinheiro, mas vem de fora do País”. O desabafo da DJ Mariana de Oliveira Molina, conhecida pelo nome de seu projeto, Mariela, resume o impacto da pandemia da Covid-19 sobre os artistas e produtores de eventos da área.
DJs com cachês que variam entre R$ 200 a R$ 3 mil por set (seleção de músicas mixadas), dependendo da popularidade, tiveram, da noite para o dia, de contar com a ajuda do Governo, com as próprias economias, ou com outros trabalhos, já que doações, como destaca Mariana, não são uma opção. O cenário não mudou com a flexibilização da quarentena. “Várias pessoas estão na mesma situação. Não conseguem fazer doações”, admite Paulo Enge, o DJ Booo, integrante do núcleo Cosmic Crew, que realiza diversos eventos em São Paulo.
As doações são um método que se tenta adotar em várias lives. Em alguns casos, elas podem funcionar. Mariana Molina participou de um evento colaborativo de cinco dias, onde estavam recolhendo doações para um asilo. “Achei a ideia incrível”. Mas para as demais iniciativas, o resultado é outro. Ela afirma que não conhece um único streamer, seja produtor de evento ou DJ independente, que tenha recebido doações. “Acordar sem saber como estará o País e o mundo, quando for deitar novamente, é muito difícil. Fora a adaptação ao isolamento. Ficar em casa tanto tempo, para quem estava sempre na rua, é complicado”.
Para Pedro Henrique dos Santos Amorim, DJ e produtor do evento Ikigai, que acontece na Baixada Santista, o objetivo é “manter o sonho vivo”. Ele, que é conhecido por Anubis, nome do seu DJ set, está entre os profissionais que não perdem a esperança. “Continuamos com nossos projetos de uma forma diferente, nos adaptando às novas realidades”.
Leonardo Ferreira, também da Ikigai, diz que circulam planos para as festas terem ingressos presenciais e online no futuro. Isso possibilitaria ao público estar nesses eventos de modo não presencial. “Acredito que as lives continuarão após a quarentena, mas mais motivadas pelo entretenimento do que pela renda em si”.
Na maioria das festas menores, a motivação maior vem da interação com o público. O arrecadado pelas doações é pouco, quando não, nada, afirma Leonardo Ferreira.
Além do aspecto financeiro, profissionais da área afirmam que não conseguiriam ficar meses sem fazer o que amam. O músico e produtor Bruno Azalim, do Pulsar Festival, que acontece em Minas Gerais, conta que a ideia de transmitir os shows pela internet preenche o vazio por não poder se expressar. “As lives nos ajudam a não enlouquecer por não haver com o que se ocupar, e também pela falta de perspectiva de uma normalização na área de eventos, por conta das aglomerações”.
Ele admite ter uma grande preocupação quanto à parte financeira. “Esse é o pior momento para o mercado desde o último século”. Apesar dos fatores negativos existentes em decorrência da pandemia, Bruno acredita que haverá algum saldo positivo. “Sinto que muitos valores já estão sendo, e serão mais ainda, redefinidos. Como, por exemplo, a importância do tempo. Além disso, o que é realmente necessário possuir materialmente, e o que não é. E, principalmente, a importância da arte. Afinal, a quarentena seria mais difícil sem músicas, livros e filmes”.
Comments